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segunda-feira, 17 de maio de 2010

“A tragédia do macaco é a nossa”

Do site GAZETA DO POVO

por Luciana Romagnolli

Incumbida de interpretar um macaco e relatar à plateia como foi que se humanizou, a atriz Juliana Galdino preservava as feições femininas durante os ensaios do monólogo Comunicação a uma Academia. Até o dia em que foi posar para as fotos de divulgação e surpreendeu o diretor Roberto Alvim surgindo maquiada como o símio. A força da imagem convenceu e, quase irreconhecível, a atriz apresenta de sexta (14) a domingo (16), no Mini-Guaíra a peça que estreou no ano passado em São Paulo, e pela qual concorreu ao Prêmio Shell.
Se, em princípio, a caracterização pareceu forçada, depois passou a fazer sentido. Afinal, também na obra de Franz Kafka, o autor do conto, “a coisa mais absurda se presentifica clara e cristalina” – observa Alvim. Como a barata de A Metamorfose. “Na atuação da Juliana, você aceita esse absurdo, posto que ele está ali na sua frente”, diz o diretor, para quem esse é o melhor trabalho da carreira da artista, com quem é casado.

Uma relação de casal e com o público

A parceria criativa nunca é simples para o diretor Roberto Alvim e a atriz Juliana Galdino, por conta das diferenças fundamentais de pontos de vista entre o casal, que acabam incorporadas em espetáculos como Comunicação a uma Academia. “Sempre discutimos muito durante o processo de ensaio. As visões dela são diferentes da minha, e isso causa antagonismos”, ele conta.
Os dois, porém, encaram os enfrentamentos como algo benéfico. “Tenho uma tendência mais abstrata em relação à arte e ao ser humano. Ela tem uma visão figurativa da personagem. O meu trabalho, sem ela, acabaria entrando em terrenos muito impalpáveis”, pondera Alvim. “Esses atritos mantêm a tensão das obras, que seriam muito menos poderosas sem eles.”
Além de Juliana, há um segundo ator em cena no espetáculo que apresentam neste fim de semana no Mini-Guaíra. Mas José Geraldo Jr. permanece mudo, no papel de um vigilante. Tendo um ou mais atores no palco, Alvim sempre pensa o teatro essencialmente como um diálogo do intérprete com a plateia. “Tanto que nunca trabalho com contracenação”, explica. “Em nenhuma peça minha um ator olhou nos olhos do outro.”
Em cena, Juliana fica atenta à demanda do público: “Às vezes, o tipo de energia que se estabelece na sala faz com que ela dê uma escandida maior em alguns silêncios. Ou faz com que avance com uma rítimica mais vertiginosa. Depois de um ano com a peça, ela tem domínio para expandir ou minimizar dependendo do espaço.”
O espetáculo praticamente não parou desde a estreia, em março de 2009. Fez temporadas em São Paulo, correu o interior paulista e esteve em festivais como o de São José do Rio Preto. No fim do mês, participa do Tempo Festival, que acontece no Rio de Janeiro substituindo o extinto Riocenacontemporânea.
Já Como se Eu Fosse o Mundo, peça criada pelo diretor com o Núcleo de Dramaturgia do Sesc Paraná, não tem previsão de nova temporada por aqui, depois de ter estreado no Festival de Curitiba. Seu único destino certo, até o momento, é uma das unidades do Sesc em São Paulo.

Certamente, é o papel mais difícil já enfrentado pela atriz que saiu debaixo das asas de Antunes Filho em 2006, depois de protagonizar Antígona e duas montagens de Medeia, para com Alvim fundarem a companhia Club Noir. Não contente em ser macaco, seu personagem se metaformoseia em homem – demandando da intérprete uma postura masculina. E não bastasse a semelhança fisionômica, Juliana criou um registro de voz próprio, muito grave, baixo e com acentos ligeiramente guturais, para seu falatório autobiográfico.
“Muita gente tem esperado a hora em que ela entra em cena efetivamente ou tem convicção de que é um ator que faz o papel”, conta o diretor, ilustrando o grau de confusão que a criatura é capaz de provocar no espectador. Enquanto ela construía o personagem, coube a ele ditar as marcações e criar todo o entorno que a envolve – cenografia, iluminação e trilha sonora –, buscando um sentido minimalista até na gestualidade, reduzida para parecer mais significativa quando visível.
Alvim encara a transformação pela qual o macaco passa, imitando humanos para escapar da vida atrás das grades, como a trajetória de alguém que se torna o que não é por sobrevivência. Esforço de adaptação que obviamente não é feito apenas pelo símio: “Abandonamos a nossa singularidade e a nossa visão pessoal do mundo e acolhemos outras perspectivas, às vezes contrárias mesmo àquilo em que acreditamos, para conseguirmos sobreviver num mundo em que se tem que pertencer a algo, e a diferença, por vezes, não é bem aceita ou tolerada.” Ele conclui: “A tragédia do macaco é a nossa tragédia.”

Desvios

Recriar no palco a íntegra do conto contraria o projeto estético da companhia de montar apenas dramaturgia contemporânea – a primeiro foi Anátema, de Roberto Alvim; depois O Homem sem Rumo, do norueguês Arne Lygre; O Quarto, do inglês Harold Pinter; e, mais recentemente, Como se Eu Fosse o Mundo, do curitibano Paulo Zwolinski.
Mas o texto de Kafka se insinuou como um “convite incontornável” quando o casal abriu aleatoriamente o livro para lê-lo em casa, e se impressionou com o conteúdo, a forma como a realidade era construída através da fala, e a síntese em meras 15 páginas, tornadas 50 minutos de espetáculo.
“O texto foi se impondo e pedindo mais do que a gente podia dar, o que levou à ampliação do nosso trabalho. Esse é sempre o objetivo de entrar numa peça de teatro: não o que eu vou fazer com a peça, mas o que a peça vai fazer comigo, como eu vou estar diferente quando terminar”, opina Alvim.
Ao falar do processo de criação do espetáculo, vez ou outra o diretor diz que algo “se impôs” a ele: a caracterização de Juliana, o texto e até a maneira de encená-lo. Na sua concepção inicial, a atriz vestiria calça jeans e camisa branca, e falaria ao microfone enquanto três gigantescas antenas parabólicas desempenhariam movimentos coreografados ao fundo. A motivação era destacar o que chama de “metástase do mesmo”, uma im­­pessoalidade que se prolifera pelos discursos mundo afora.
“Nos primeiros dias, fomos percebendo a grandeza, a complexidade e a beleza do texto, e vendo que não havia a menor condição de competir com aquilo. A questão era justamente permitir que aquele texto soe e seja compreendido”, conclui.

Serviço
Comunicação a uma Academia. Mini-Guaíra (R. Aminthas de Barros, s/nº), (41) 3232 9145. Texto de Franz Kafka. Direção de Roberto Alvim. Com Juliana Galdino e José Geraldo Jr. Dias 14 e 15 às 21 horas e dia 16 às 20 horas. R$ 10 e R$ 5 (meia). Classificação indicativa: 16 anos.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Esse final de semana em Curitiba....


Curitiba recebe o espetáculo COMUNICAÇÃO A UMA ACADEMIA nos dias 14, 15 e 16 de Maio. As apresentações ocorrem no AUDITÓRIO GLAUCO FLORES SÁ DE BRITO. Espetáculo contemplado com o Programa BR de Cultura.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Oficinas 2010

Tiveram início, esta semana, as oficinas de ATUAÇÃO COM FOCO NA MONTAGEM DE DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA (coordenadas por Juliana Galdino) e ESTÚDIO DE CRIAÇÃO DRAMATÚRGICA (coordenado por Robeto Alvim).
Este projeto foi contemplado pelo prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz.
Em setembro de 2010 acontecerá leituras dramatizadas com os integrantes das oficinas.

E o príncipe da Dinamarca foi parar na UTI...

Do site http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100506/not_imp547580,0.php

Crítica: César Augusto - O Estado de S.Paulo
BOM

H.A.M.L.E.T., de Roberto Alvim e direção de Juliana Galdino, no Club Noir, propõe diálogo com Hamlet Machine, de Heiner Müller e, consequentemente, Hamlet, de Shakespeare. Mas se engana quem espera um diálogo subalterno aos cânones.

A intertextualidade e a desconstrução são ferramentas já conhecidas daquilo que se convencionou chamar de pós-modernidade, seja como desdobramento ou ação iconoclasta em relação à modernidade. Se o Hamlet shakespeariano tem o vigor de quem tece a trama da própria tragédia e o Hamlet mülleriano se arrasta sobre ruínas da Europa, porque não é mais quem foi - estabelecendo através de um diálogo com os mortos uma visão crítica da realidade -, o Hamlet (Renato Forner) de Alvim e Galdino está na UTI, doente e confuso, questionando a noção de aplicação de valor. Não tem vigor, está impotente, em seu "palácio-hospital", diante da não arbitrariedade de qualquer ato, seu ou dos pares. Nesse sentido, ainda que a vida seja "O resultado do sonho / O sonho mesmo/De um outro/um sonho alheio", restam pulsões que precedem convenções. Nesse caso, Eros e Tânatos, Amor e Morte. Ainda que este Hamlet e os que o circundam estejam anestesiados, porque parecem acordar todo dia respirando por aparelho sem nem se dar conta disso, eles têm de lidar com essas pulsões o tempo todo, o que provoca nas relações entre os personagens uma tensão entre a vontade e a ação. Mesmo matando alguns dos que estão ao seu redor, inclusive depois a própria mãe, e sucumbindo ao desejo de copular com ela - o que nem chega a se realizar - numa vã tentativa de retorno ao útero, como alívio à tensão entre pulsões e convenções, não se resolve o dilema, porque este Hamlet é impotente.

Juliana, em sua primeira direção, entende o texto e segue a predileção de Alvim. Usa referências de Bob Wilson e David Linch apenas para se colocar, de acordo com a definição para desconstrução de Leyla Perrone-Moisés, "em dúvida", "em movimento", em "re-pensamento", através de uma auto-ironia paródica. Há dois momentos em que este recurso é vertical: na cena em que os atores tentam adivinhar a pergunta "qual é a questão?" e quando se pede para a plateia imaginar o horror da cena da morte do pai de Hamlet, num blackout.

Prosódia. Juliana parece propor um abismo, "a essencial novidade psíquica do poema", segundo Bachelard, em cada fonema da prosódia dos atores. Porém, se o som da palavra emitida pode provocar uma sensação qualquer na plateia, parece que, de acordo com a proposta, isto não pode ser imposto por ele. Parece que o som deve deixar espaços incompletos, preenchidos ou não, a posteriori ou imediatamente, pelo público. E isso às vezes não acontece, porque em algumas oportunidades a fala sai de maneira impositiva, subjugando os personagens e a plateia, concorrendo com a ironia e a paródia do próprio espetáculo. É provável que esse entendimento venha com o tempo. Importa menos o resultado e mais o caminho proposto.

Então, qual é a questão? O único ato de vontade possível é dar fim à própria vida? É o suicídio? Uma vez que se é refém das circunstâncias internas e externas que podem moldar a todos? Não seria o suicídio também resultado disso? O final da peça parece deixar uma fresta, uma porta entreaberta que, se não responde às questões, evoca e pede reflexão não "sobre", mas "como" é possível viver.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Na psique de Hamlet

Do site http://br.noticias.yahoo.com/s/30042010/11/entretenimento-teatro-na-psique-hamlet.html
Por Luciano Mazza

(São Paulo, BR Press) - Uma das jovens atrizes de maior destaque no cenário teatral de São Paulo na última década, Juliana Galdino, estreia oficialmente como diretora à frente de sua companhia, a Club Noir, em H.A.M.L.E.T. Trata-se de uma releitura de William Shakespeare criada por Roberto Alvim, que habitualmente dirige o grupo, voltando à sua produção como dramaturgo (seu último texto foi o belo monólogo Anátema, estrelado pela diretora, em 2006).

Humano

Na clássica tragédia, escrita, possivelmente, no final século XVI, o transtornado príncipe Hamlet, do reino da Dinamarca, decide vingar seu pai - cuja vida e coroa foram usurpadas por seu tio -, levando à loucura e morte o assassino e sua própria mãe, desposada pelo algoz do marido morto.

Em sua obra-prima, o bardo inglês teceu uma trama poética e vigorosa sobre o homem e suas profundezas, usando a reflexão da sede pelo poder e vingança, como platô, para falar, também, de sentimentos e conceitos morais, como o amor, a corrupção, o incesto e, em especial, a loucura - e como ela pode ser manipulada, ardilosamente, como desabono de uma raiva e justiça legítima.

Internando Hamlet

Saindo do palácio, a versão contemporânea de Alvim transpõe a saga para o quarto de um hospital psiquiátrico. É interessante perceber como tal trânsito inverte o jogo entre os personagens: se antes, Hamlet e sua insanidade eram um ponto estranho e incômodo dentro de um ambiente opressor, estabelecido por seus inimigos dentro da casa real, agora são estas figuras que têm de entranhar-se no desconfortável universo psicótico do protagonista. Aqueles tidos como normais estão no terreno do louco - e não mais o contrário.

Quimicamente alterada, a visão a qual acompanhamos é a do personagem principal, imerso agora numa experiência lisérgica no espaço ambulatorial onde se encontra - com seus familiares e amigos transformados em médicos, pacientes e delírios.

O texto tem passagens primorosas - como a descrição de um suicídio perfeito, ao final - e funciona objetivamente como um contundente comentário crítico aos conteúdos propostos pela obra original, expondo novas e pertinentes visões e questionamentos a respeito da história e seus personagens, de forma radical e, por vezes, romanticamente idealizada.

Tal dramaturgia é o combustível ideal para a montagem carregada de simbologia e que condensa ainda mais o texto, delimitando a ação ao primordial.

Suave

A encenação de Galdino surge sintonizada com a estética e linguagem de seu grupo, mas traz uma certa suavidade formal, se comparada a trabalhos anteriores. Também aproveita muito bem o espaço - belamente iluminado -, criando imagens que transcendem a beleza plástica.

O elenco, encabeçado por Renato Forner, tem como destaques as atrizes Anapaula Csernik e Janaína Afhonso, e o ator Bruno Ribeiro. Intelectualmente rico, H.A.M.L.E.T., é um espetáculo revelador.

Sessões: Sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h. Até ???
Club Noir - Rua Augusta, 331; (11) 3257-8129