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segunda-feira, 8 de abril de 2013
COMUNICAÇÃO A UMA ACADEMIA em curta temporada.
COMUNICAÇÃO A UMA ACADEMIA
de Franz Kafka
direção de Roberto Alvim
com Juliana Galdino e Zé Geraldo Jr.
em curta temporada no Centro Internacional de Teatro - ECUM
(Rua da Consolação, 1623 Consolação – São Paulo)
de 17 de Abril a 9 de Maio
quartas e quintas, às 21h
Diante de uma Academia não especificada (representação de todas as instituições dedicadas ao conhecimento humano), um macaco (interpretado por Juliana Galdino) se apresenta, visando fazer uma estranha comunicação: o relato de como se tornou humano. Separado por uma linha divisória dos excelentíssimos senhores acadêmicos e vigiado constantemente por um discreto - mas atento - guarda armado, ele fala. E ao falar, revela o processo de transformação gradual - e incontornável - através do qual se tornou o que não era. Uma metáfora terrível de toda forma de condicionamento, colonialismo, adestramento e aculturação, o texto de Franz Kafka suscita a reflexão a respeito de questões urgentes e incontornáveis em nossa época globalizada.
Entrevista Roberto Alvim - Folha de São Paulo 05/04/2013
05/04/2013 - 03h17
'Não há nada para aprender com criadores do teatro moderno no Brasil', diz Roberto Alvim
GUSTAVO FIORATTI
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Dramaturgo Roberto Alvim inspira nova geração do teatro
Com o título Transumano, criado por ele próprio, à frente de sua produção e do espectro que estabeleceu como artista e pensador, Alvim busca "problematizar o sujeito". Bem resumidamente: em cena, seu pensamento origina um tipo de linguagem que dá potência à palavra. Atores passam a assumir vozes, mais do que personagens. Os contornos de objetos e de pessoas, desenhados pelo contraste entre luz e escuridão, permitem novas percepções visuais, algo que, para ele, "fala ao inconsciente". A imobilidade remete à técnicas das artes visuais, há mais tons de xilogravuras do que da pintura propriamente.
Após apresentar, no Festival de Curitiba, seu mais recente trabalho, "Haikai", Alvim concedeu entrevista à Folha --por e-mail, o que possibilitou manter a íntegra da conversa.
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Folha - Há cerca de dois anos, você começou a falar sobre o Transumano, um gênero, ou uma escola, ou um estilo criado por você. Você pode falar um pouco sobre o Transumano?Roberto Alvim - Transumano é um conceito ligado a problematizações radicais do sujeito. Transumano é dramaturgia de invenção: invenção de outros mundos linguísticos, habitados por outras formas de vida.
Sua proposta é que o Transumano seja praticado também por outros artistas? Você sente a necessidade de criar uma escola, ou um tipo de arte ou de teatro que possa ser praticado por outros artistas, hoje?
É preciso problematizar nossa ideia estabelecida acerca do que seja o sujeito, para que desenhos outros da condição humana possam ser traçados em cena. O Transumano não é uma coisa; ele é o fim de uma coisa, e a abertura de infinitas possibilidades de invenção: outras experienciações de tempo e espaço, através de novas arquiteturas linguísticas.
Mas você vê o transumano como identidade própria, ou como algo a ser reafirmado em outras obras, como uma escola? Ou não é nenhum dos dois?
Transumano é um posicionamento existencial, a partir do qual vê-se o teatro como campo de invenção de outros mundos, habitados por outras formas de vida. Quem inventa estes mundos e estas formas de vida é cada um dos autores, e não há como haver similiaridades formais. O que há em comum é um posicionamento existencial, que percebe o teatro como o lugar da alteridade.
Como incentivar as singularidades de seus alunos? Você vê singularidades nos trabalhos que foram influenciados por você?
O conceito de transumano visa limpar o terreno para que singularidades possam eclodir. Diante do trabalho de um aluno, se reconheço algum sistema formal pré-existente, então eu digo "não"; se percebo um sistema formal da ordem da alteridade, então eu digo "sim".
Seu teatro está influenciando uma geração de jovens artistas, especialmente em Curitiba e em São Paulo, como tem sido possível constatar no Fringe, aqui em Curitiba. Em que nível se dá sua relação com esses artistas e com seus trabalhos? Você reconhece essa influência?
Minha maior influência é a de propagar que a singularidade é o tema perpétuo da criação artística. Tudo é em prol da conquista (por cada artista) de uma instância de singularidade, e é, portanto, contra qualquer ventriloquismo. O teatro só sobrevive na medida em que se reinventa permanentemente; e reinventar o teatro é reinventar o homem.
Em que medida o espectro que você criou dá a você mais ou menos liberdade de criação?
Não tenho medo de espectros; tenho fascínio. E minha liberdade é uma conquista diária.
Recentemente, você criticou, no Facebook, o tipo de interpretação da velha guarda, o tipo de interpretação praticado pela atriz Fernanda Montenegro. O que é preciso mudar, na sua opinião?
Não há nada para aprender com a geração de atores que criou o teatro moderno no Brasil. Grandes, imensos atores, mas que sempre trabalharam norteados por uma idéia específica acerca da condição humana (a idéia moderna de sujeito que temos desde o Renascimento). São grandes atores figurativos, que desenvolveram uma técnica incrível, mas que não dá conta das dramaturgias contemporâneas, revolucionárias em suas formas e proposições acerca do que seja a experiência humana. Se nos pautarmos na forma de atuação destes atores, soterraremos a possibilidade de criação de novos procedimentos técnicos, exigidos por estas dramáticas, que promovem outros desenhos, outros modos de vermos e habitarmos a vida, o tempo, o espaço. Quando a dramaturgia aponta para lugares inaugurais, é preciso que se crie novas abordagens em termos de encenação e atuação. As técnicas que até então vigoraram devem ser esquecidas, completamente, sob o risco de obliterarem a habitação das novas formas, e de quebrarem a espinha dorsal destas novas poéticas, que exigem a invenção de novos métodos de atuação, haja vista que promovem outros desenhos acerca do que seja a vida humana.
Nas artes plásticas, o abstracionismo mostrou, na primeira metade do século 20, que havia alternativas à pintura figurativa. O figurativo, por sua vez, foi retomado pela arte pop, nos anos 1960. Hoje, as Bienais, as artes visuais, parecem ter deixado a questão de lado. Tentar estabelecer, no teatro, este jogo já superado pelas artes visuais não é também permanecer "em atraso" em relação ao "campo de expressão vizinho"?
Quem está estabelecendo este jogo simplório (abstrato versus figurativo) é esta pergunta... O meu jogo é entre conhecido e desconhecido; entre cognoscível e incognoscível. Quero que o teatro abra infinitas veredas de experienciação estética que até então não haviam sido trilhadas. Que o teatro proporcione experienciações do desconhecido, através de sistemas cênicos da ordem da invenção radical. Uma técnica é uma visão de mundo: se a visão de mundo muda, é preciso a invenção de novas/outras técnicas, que possam traduzí-la e expandí-la em caminhos estéticos não-mapeados
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