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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Na psique de Hamlet

Do site http://br.noticias.yahoo.com/s/30042010/11/entretenimento-teatro-na-psique-hamlet.html
Por Luciano Mazza

(São Paulo, BR Press) - Uma das jovens atrizes de maior destaque no cenário teatral de São Paulo na última década, Juliana Galdino, estreia oficialmente como diretora à frente de sua companhia, a Club Noir, em H.A.M.L.E.T. Trata-se de uma releitura de William Shakespeare criada por Roberto Alvim, que habitualmente dirige o grupo, voltando à sua produção como dramaturgo (seu último texto foi o belo monólogo Anátema, estrelado pela diretora, em 2006).

Humano

Na clássica tragédia, escrita, possivelmente, no final século XVI, o transtornado príncipe Hamlet, do reino da Dinamarca, decide vingar seu pai - cuja vida e coroa foram usurpadas por seu tio -, levando à loucura e morte o assassino e sua própria mãe, desposada pelo algoz do marido morto.

Em sua obra-prima, o bardo inglês teceu uma trama poética e vigorosa sobre o homem e suas profundezas, usando a reflexão da sede pelo poder e vingança, como platô, para falar, também, de sentimentos e conceitos morais, como o amor, a corrupção, o incesto e, em especial, a loucura - e como ela pode ser manipulada, ardilosamente, como desabono de uma raiva e justiça legítima.

Internando Hamlet

Saindo do palácio, a versão contemporânea de Alvim transpõe a saga para o quarto de um hospital psiquiátrico. É interessante perceber como tal trânsito inverte o jogo entre os personagens: se antes, Hamlet e sua insanidade eram um ponto estranho e incômodo dentro de um ambiente opressor, estabelecido por seus inimigos dentro da casa real, agora são estas figuras que têm de entranhar-se no desconfortável universo psicótico do protagonista. Aqueles tidos como normais estão no terreno do louco - e não mais o contrário.

Quimicamente alterada, a visão a qual acompanhamos é a do personagem principal, imerso agora numa experiência lisérgica no espaço ambulatorial onde se encontra - com seus familiares e amigos transformados em médicos, pacientes e delírios.

O texto tem passagens primorosas - como a descrição de um suicídio perfeito, ao final - e funciona objetivamente como um contundente comentário crítico aos conteúdos propostos pela obra original, expondo novas e pertinentes visões e questionamentos a respeito da história e seus personagens, de forma radical e, por vezes, romanticamente idealizada.

Tal dramaturgia é o combustível ideal para a montagem carregada de simbologia e que condensa ainda mais o texto, delimitando a ação ao primordial.

Suave

A encenação de Galdino surge sintonizada com a estética e linguagem de seu grupo, mas traz uma certa suavidade formal, se comparada a trabalhos anteriores. Também aproveita muito bem o espaço - belamente iluminado -, criando imagens que transcendem a beleza plástica.

O elenco, encabeçado por Renato Forner, tem como destaques as atrizes Anapaula Csernik e Janaína Afhonso, e o ator Bruno Ribeiro. Intelectualmente rico, H.A.M.L.E.T., é um espetáculo revelador.

Sessões: Sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h. Até ???
Club Noir - Rua Augusta, 331; (11) 3257-8129

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