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Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Meu amor por teatro foi um amor tardio. Minha introdução nesta arte eu devo a uma temporada em Paris, em 2000. Até então, por incrível que pareça, não havia descoberto a magia do teatro. Pensava que meu caminho seria a literatura. Estudei Cultura e Civilização Francesa na Sorbonne por cerca de um ano, e lembro-me de ficar hipnotizada nas aulas de teatro. Também me recordo de adentrar os pequenos teatros da cidade, noite após noite, tomada pelo novo mundo que se abria para mim, encantada com a força e magia de cada espetáculo, mesmo quando a língua atrapalhava o entendimento. Desde o início, fui conduzida pelo aspecto sensorial desta arte. Os climas, os estranhamentos e as possibilidades do teatro contemporâneo me fisgaram. Vi uma avalanche de peças, a maioria em palcos desconhecidos dos próprios parisienses.
Lembra da primeira peça que assistiu? Como foi?
Minha memória não é das melhores. Lembro-me de espetáculos circenses na infância, uma outra recordação marcante foi “Cats” e, quando eu já estava mais ‘madura’, “As Três Irmãs”, de Tchecov. Espetáculos que não poderiam ser mais diferentes, mas que me marcaram igualmente.
Qual foi a última montagem que você viu?
“As Folhas de Cedro”, de Samir Yazbeck.
Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
“O Quarto”, montagem de Roberto Alvim para o texto de Harold Pinter.
Um espetáculo que mudou a sua vida.
“Rose Tatoo”, de Tenessee Williams. Foi saindo desta peça – da qual nem gostei tanto assim – que eu resolvi estudar dramaturgia e história do teatro em Boston.
Você teve algum padrinho no teatro? Se sim, quem?
Tive sim, Alberto Guzik, que foi um anjo na minha vida e me deu o presente mais valioso que eu já ganhei: escreveu o prefácio do meu livro; E o Ivam Cabral, organizador da coleção Primeiras Obras, na qual minhas peças foram publicadas, e quem, ao lado do Rodolfo García Vázquez , deu a maior força na minha estreia no teatro – “A História Dela”, meu primeiro texto encenado, estreou nos Satyros graças a eles.
Já saiu no meio de um espetáculo? Por quê?
É horrível, desrespeitoso e tal, mas já. O espetáculo era uma comédia tão ruim que chegava a ser constrangedor.
Teatro ou cinema? Por quê?
Teatro, claro. Mas são artes tão diferentes. Cinema eu adoro, vou para relaxar. Teatro não me descansa, pelo contrário, estimula, questiona, inquieta. Exige tanto do espectador intelectualmente, até sua postura na cadeira fica mais ereta.
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
Já vi muitas peças cujos textos me tocaram de tal forma, e tão intimamente, que me deram ter vontade de tê-los escritos: “Inocência”, de Dea Loher, e “A Refeição”, de Newton Moreno, são dois exemplos que me vêm à memória agora.
Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E Por quê?
Já, para perceber outros aspectos da obra, me liberar da racionalidade e acessar camadas mais profundas.
Qual dramaturgo brasileiro você mais gosta? E estrangeiro? Explique.
Newton Moreno e Grace Passô. O primeiro por estabelecer um diálogo único entre a tradição nordestina e cosmopolitismo. A Grace por sua busca constante em rever códigos do teatro e fazer uso da metáfora para deslocar a ordem. Dos estrangeiros, me sinto atraída especialmente por Valere Novarina e Jon Fosse, ambos autores que trabalham a linguagem de forma absolutamente inovadora, mostrando que há camadas de significado ocultas nas palavras.
Qual companhia brasileira você mais admira?
Club Noir.
Existe um grupo ou companhia de teatro que você acompanhe todos os trabalhos?
A maioria, cito alguns: Club Noir, Os Satyros, Grupo Espanca!...
Qual gênero teatral você mais aprecia?
Drama.
Qual lugar da plateia você costuma sentar? Por quê?
Gosto de sentar bem na frente para poder ver a gota do suor escorrer pelo rosto do ator.
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você já foi ou já trabalhou?
Só não gosto de ver espetáculo intimista em um teatro de 500 lugares, o que acontece em alguns festivais.
Já assistiu a alguma peça documentada em vídeo? O que acha do formato?
Já, acho que a magia do teatro depende da energia que é produzida entre a plateia e os atores no momento em que o espetáculo acontece.
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Algumas comédias, nem com o mais talentoso dos encenadores!
Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?
Ai, que difícil! Se eu conseguir encenar meus projetos do jeito que eles estão concebidos, já será um sonho!
Cite um cenário surpreendente.
“Cinema”, de Felipe Hirsch, ao criar no palco um espelho da plateia.
Cite uma iluminação surpreendente.
Rodolfo García Vázquez em “Inocência”.
Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.
Juliana Galdino sempre surpreende. Beth Goulart também me su
rpreendeu em “Simplesmente Eu, Clarice Lispector”. Senti uma magia em cena como poucas vezes havia presenciado. Ivam Cabral em “Divinas Palavras”. Lee Thaylor em “A Falecida”. Luiz Paetow em “Abracadabra”. E muitos outros.
O que não é teatro?
Teatro filmado não é teatro. De resto, muita coisa é, inclusive nos relacionamentos da vida real.
Que texto você foi ler depois de ter assistido a sua encenação?
Acho que o último que eu li foi “A Inquietude”, de Valere Novarina. Gosto muito de ler o texto antes ou depois de ver a encenação.
A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Tudo depende, mas, por que não?
Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?
Continuar sendo um refúgio para o homem se sentir humano.
O teatro é uma ação política? Por quê?
Sempre é, até quando não trata de política. Porque o teatro te faz refletir sobre a vida e o mundo.
Quando a estética se destaca mais do que o texto e os atores?
Nas peças de Bob Wilson, por exemplo.
Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
“Os Cegos”, obra-prima de um dos principais nomes do teatro simbolista do início do século XX, Maurice Maeterlinck, encenada pelo canadense Denis Marleau – que esteve no FIT Rio Preto deste ano e se apresentou recentemente no Sesc Pinheiros, em SP. A peça discute a falta de percepção da humanidade de maneira absolutamente original. Através de projeções em máscaras, elimina o intérprete do palco sem que o espectador se dê conta disso. Desta forma, abala os alicerces de “Os Cegos” e do próprio teatro.
Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?
Todas! Gosto de ter as obras na estante e mergulhar nelas quando vou vê-las no palco.
Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.
Roberto Alvim. O homem que mais me ensinou sobre teatro contemporâneo, que é também um dos mais talentosos encenadores da nova geração.
Qual o papel da sua vida?
Um que me faça aprender cada vez mais e alimente sempre minha alma com a energia mágica que o teatro é capaz de produzir.
Uma pergunta para William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Bertold Brecht ou algum outro autor ou personalidade teatral que você admire.
O que move suas entranhas?
O teatro está vivo?
Para quem vive do teatro como eu, está vivo e com ótima saúde. Para os que desconhecem a magia e o poder transformador do teatro ele é uma arte moribunda.
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