Quando Arthur Miller escreveu As Bruxas de Salem, em 1953, usou a histeria religiosa de um dos períodos mais negros da história da humanidade, o da Santa Inquisição, para criticar o Macarthismo e a perseguição aos comunistas nos Estados Unidos.
O movimento criado pelo Senador Joseph McCarthy em 1951 baseava-se na ignorância, no preconceito e realizou uma verdadeira "caça às bruxas" da qual não escaparam pensadores, artistas e jornalistas da época. Na classe artística esse período ficou conhecido como Red Scare Era, a Era do Pânico Vermelho.
Se na idade média o simples fato de possuir um gato preto podia levar alguém à fogueira, durante o Macarthismo qualquer vestígio de pensamento "anti-americano" podia classificar o indivíduo como comunista e levá-lo à prisão, tortura e morte. Algo bem próximo ao que vivemos no Brasil durante o governo militar nos anos 60 e 70.
A Santa Inquisição foi criada em 1.184 e existiu até 1.821. Estima-se que tenha feito 9 milhões de vítimas. O Macarthismo durou pouco mais de 1 década e matou bem menos gente mas ocupa seu lugar na lista de momentos vergonhosos da história da humanidade.
A atriz e diretora Juliana Galdino resgata o clássico de Arthur Miller em uma versão muito particular. Trabalhando a luz ou a ausência dela, Galdino explora a força do texto e a interpretação vigorosa de um elenco de jovens e grandes talentos. Destaque para Fernando Gimenez, perfeito na pele do personagem John Proctor; e a surpreendente performance de Fernanda Valêncio como a escrava Tituba.
Com duração de aproximadamente 1 hora o espetáculo parece durar apenas alguns minutos, tamanha a tensão que envolve atores e expectadores. Nada separa o público do palco. Ao contrário. Sentados na platéia somos parte da trama, envoltos pela mesma escuridão nos tornamos cúmplices silenciados pelo medo.
Bruxas, em cartaz no Club Noir, é um espetáculo primoroso e, como todos os trabalhos de Juliana Galdino, não é entretenimento. É um convite a pensar, a refletir.
Bruxas
Adaptação de As Bruxas de Salem, de Arthur Miller
IV Paralela Noir
Cia Club Noir
Direção de Juliana Galdino
Em cartaz até 18 de dezembro no Club Noir
Rua Augusta, 331 - Consolação - São Paulo
Sábados às 21 h e Domingos às 20 h
Ingressos gratuitos
(Retirar 1 hora antes do espetáculo)
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