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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

"Nas cidades, as florestas". Crítica.

Do site: http://antroexpostodialogos.blogspot.com/2011/11/nas-cidades-as-florestas.html?spref=fb


Por Ruy Filho
Um dia, esse dia será lembrado

DRAMAMIX
“Nas cidades, as florestas”
Dramaturgia e Direção: Roberto Alvim
Elenco: Renato Forner, Bruno Ribeiro, Ana Paula Csernik e Jaqueline Stefanski

Contar uma história parece razoável, quando falamos de teatro. Escutar um pouco sobre a vida de um outro inventado, criado a partir das necessidades do autor ou tema, e completar o recurso na tentativa de incluir na narrativa alguma mensagem ou informação que reconheçamos importante o suficiente para que ali estejamos disponíveis a absorver tudo. Ainda que se tente fugir, e não importando os caminhos ou atalhos perseguidos, a história sempre estará lá como norte de interpretação do que se assiste. É inerente ao teatro sua capacidade narrativa, mesmo aos recursos mais abstratos. Só que há maneiras e maneiras de se narrar, de contar, de apresentar uma história.

Roberto Alvim é desses que se inquieta com o dizer e consegue ir além da obviedade construindo em seus espetáculos algo maior e mais próximo ao experimentar o teatro como recurso de discurso e não de moral, meramente. Faz da palavra instrumento cênico, e não o uso trivial da narração discursiva. Recria os princípios da narrativa ao se propor ir além do contexto retórico para tornar o dizer necessidade estética.

Nas Cidades, As Florestas é, sem dúvida, seu trabalho mais belo. Construído pela estética qual vem pesquisando junto a sua companhia, nos últimos anos, onde a pouca luz existente em cena não necessariamente é utilizada para iluminar o ator, mas como composição espacial para elaborações de ambiências perceptivas, e trabalhando a voz, a partir dos estudos de Juliana Galdino, também fundadora do Noir, cuja projeção e ampliação desconsidera a métrica usual para trazer a sonoridade como interpretação simbólica mais aos subtextos do que às falas em si. Reunindo o melhor de ambas as pesquisas, estéticas e técnicas, portanto, o espetáculo apresentado alcança um nível poético capaz de ir além dos próprios recursos escolhidos. E aí ocorre, verdadeiramente, uma possível revolução na linguagem de Roberto.

Aos que acompanham o Noir e suas experimentações, basta dizer que Nas Cidades, As Florestas possui tudo que há nos trabalhos anteriores, mas gera poeticamente uma potência tão perturbadora ao espectador, que é impossível não se levar à emoção.

Por fim, ainda que valeria discursar por páginas e páginas sobre a cena, mas o que exigiria assisti-la igualmente tantas vezes mais, fica a sensação de que pudemos presenciar mais do que um espetáculo, mas aquele instante raro e quase sempre solitário, quando um artista se observa ao espelho e se descobre maduro.

Roberto Alvim dá o primeiro passo para consolidar de vez a importância de sua trajetória. Agora, especificamente, demonstrando e redimensionando seus discurso a um nível de poesia maior do que qualquer pesquisa teatral. Sim, o artista se revelou maior do que sua própria arte. E isso é um prazer assistir acontecer.

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